segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Não se perca.


A sala da minha casa ainda é a mesma, sabia? Aquela mesma sala onde, tantas vezes, a gente dormiu depois de uma festa. A mesma sala onde eu ouvi, ansiosa, você contar sobre o último cara que havia roubado seu coração. Algum desses que você dizia ser bom demais, bonito demais, rico demais, mas que precisaria voltar daqui à quinze anos porque você ainda era muito jovem pra se casar. Lembro sempre daquela nossa viagem. Da gente fugindo às duas da manhã pra andar na praia... Acho que tínhamos menos medo da vida. Acho que, naquela época, a gente se parecia mais. Talvez você não saiba, mas o telefone aqui de casa passou a tocar rouco depois que você resolveu que era hora de ir. Você foi a primeira pessoa a quem eu jurei amor eterno, amizade eterna, carinho eterno. Você é a única nesse mundo de quem eu jamais consegui esconder quem eu realmente sou. Com tudo o que eu trago de bom ou de ruim, você sempre me deixou ficar. E é por isso que eu vivi anos e anos achando que o tempo nunca passaria pra gente. É por isso que ficou o vazio e a vontade de te ver... De descobrir que tá tudo bem, que você tá feliz, que ainda é a mais forte de nós duas... A cidade é a mesma, as pessoas são as mesmas, mas ninguém nunca me ensinou a viver sem você. E isso é pior do que aquela vez que você teve catapora e ficou duas semanas sem ir à aula. É pior do que quando mudamos de colégio e nossas manhãs perderam alguma coisa que a gente nunca mais conseguiu recuperar. Eu sempre soube da sua necessidade de mundo. Da sua leveza e vocação pra viver e só. Sem muito medo do futuro. Sem muito medo de todo o resto também. Lembro da menina que você foi e me surpreendo com a mulher em que se transforma quando me manda ter juízo. Quando me pede pra ter cuidado no caminho... Você diz que minha vontade de ser livre te assusta. Não passa pela sua cabeça que foi com você que aprendi a lutar? Essa sua teimosia incansável não te deixa ver muitas coisas dos caminhos que tracei. A sua bondade é enorme, quase transborda. As vezes tenho a impressão de que você não faz idéia disso. De que não imagina que só precisa aceitar o muito. Porque é o muito que você merece. Escrevi uma porção de textos que no fim, não tiveram significado algum. E com exceção às inúmeras cartas que trocamos, acabei não escrevendo as tantas linhas que deveria pra pessoa que só fez colar meu coração. Que me disse as maiores verdades do mundo. Que me acolheu ferida e cheia de angústias. - "Se você não estiver feliz, nós vamos dar um jeito." - Você me disse uma tarde, enquanto nos despedíamos. E eu nunca me esqueci. A gente viveu coisas lindas das quais eu nunca me esqueci. Sei que diversos sentimentos jamais de repetem. Mesmo que tenha mudado tantas vezes de cor, de forma, de sentido, você não passa. A gente não passa. E eu preciso estar feliz mesmo sabendo que vinte horas de viagem te impedem de tentar curar os meus vazios. Mesmo sabendo que, pela primeira vez na vida, o porteiro não vai me deixar subir. Pela primeira vez na vida, o telefone vai chamar durante meses sem nunca ser sua a voz do outro lado. E não pode haver tristeza. Prometi a mim e à você que não haveria dor. É a vida batendo à porta... A gente só precisa de coragem. E eu, mais do que nunca, preciso que você saiba, que não se esqueça, de duas coisas fundamentais: A primeira é que no lugar de dois braços, minha amiga, você teve, sempre, duas asas. E a segunda é que não importa pra que lado o rio corra, no meu coração, na minha vida, ninguém jamais vai ocupar o seu lugar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário