Baby,

ouvi, outro dia, que o amor não precisa de muitas razões pra existir. O amor, na verdade, faz questão de ignorar uma porção de coisas. O mundo era outro, no dia em que nos conhecemos. Tive, desde então, uma espécie de amnésia. Uma necessidade de não mais lembrar. Me esqueci de como era a vida antes dos seus olhos. Me desapeguei. Acho que só a levava. Sem imaginar que pudesse caber, dentro do peito, a sede infinita de gostar até, onde a gente pensa, o gostar não alcança. A gente quer mesmo o que não tem hora pra ser sentido. Você inundou meu coração e eu deitei no teu abraço. Nunca mais tive vontade de partir. Eu gosto de te amar fora do dia. Enquanto o resto das pessoas está ocupado demais pra se encontrar em outro corpo. Eu gosto quando a gente se esquece das coisas pequenas do mundo, porque, você sabe, é costume não perdoarem quem resolveu se dar à vida. Eu gosto de vinho tinto, de rosa vermelha, de noite chuvosa, de rua deserta. Gosto das poltronas do teatro, da tela do cinema, de pracinha e daquela grama em que a gente se deitou até a noite cair. Eu gosto da curva nas tuas costas, do lóbulo da tua orelha e das pintinhas que te enfeitam. Eu gosto de viver, com você, a intensidade dos detalhes. Minhas mãos te procuram, meus passos te seguem... Gosto de quando sobra tempo pra esperar você chegar. E gosto, ainda mais, quando a espera não é longa. Gosto de quando nos falta medo e nos sobra entrega. Quando você vai, acaba ficando comigo. Deixa tudo pra trás. Às vezes não sei onde você termina e eu começo. Acho que você nem mesmo tem um fim, aqui dentro. Não pensei nunca mais em coisas tristes. Só tenho pensado nessa sorte, que nem todo mundo tem. Porque você é a minha sorte, a minha travessura. A coisa "errada" mais certa que eu já fiz na vida. Você é a minha vontade de gestos. A minha fome de palavras. O despertar dos meus instintos. O impulso que eu jamais vou reprimir. Ando suspeitando que não tem mais nome. Faz algum tempo que passou de amor.