Passagem.

Fico olhando os meus caminhos. Peço mais e mais amor. E peço fé e sinto paz. E quando ela não vem, fico feliz por ter o que esperar... Eu gosto de viver porque ainda sou capaz de cair de amores e sofrer as minhas ilusões, como se elas não tivessem nascido para se perder por aí. Perder-se como essa imensidão de sentimentos que a gente vai vivendo... Digo sempre que é a última vez. Que chega de ficar tão dolorida, tão desacreditada. E que se não for o certo, chega de falar de dor. Que chega! Mas sou capaz de me surpreender comigo e com os outros. Com palavras e silêncios e gostos e gestos... E tudo fica em mim tão misturado que às vezes até deixo de me sentir íntima de minhas próprias memórias... Perco-me entre o que aconteceu e o que quero acreditar que vivi. Sabe o que é preciso? Romancear a realidade. Assim não é tão triste passar por tudo o que não aquece. O real muitas vezes importa pouco quando se trata de sentir. E vivendo assim, passaram-se anos, Meu Deus. Eu nem teria percebido se não fossem tantos sinais... Foi tudo tão depressa e eu fui ficando mais e mais encantada com a vida. Encantada com as pessoas... Com esses afetos, que nos dão uma força vinda nem sei de onde, quando precisamos nos salvar. Quando precisamos descansar de um mundo tão cheio de buracos... Mas gosto tanto de viver... E sabe por que? Porque todo dia tem céu. E algumas vezes, pela manhã, abro a minha janela e lá longe, vejo um rosa bonito... Um rosa cor de esperança. Porque a cor da nossa esperança é a gente quem pinta. Estou sempre pintando a minha pra ela não se cansar e me deixar de vez...