Acho que criei muros. E acho que os criei pra servir de esconderijo, de refúgio. Por trás deles, posso pouco a pouco, descansar o meu amor. Tudo está aqui guardado. Em forma de sorriso e poesia. Cartas escritas sem remetente, os segredos que contei ou não à alguém, as juras que fiz à quem ficou ou a quem partiu, as coisas que joguei janela à baixo pra impedir os machucados... O que trago comigo é o que me faz ser. Mas são inúmeras paredes separando o meu sentir do sentir de quem me olha. Nos pequenos detalhes, tanta coisa bonita pra oferecer ao outro... Sem saber se vai dar tempo, sem saber se vai ser o suficiente. Quase nunca é. E cada abandono, cada perda, leva um pouco dessas contradições que fazem parte do infinito que invento pra existir... Sempre acho que antes da porta bater outra vez, vou parar de respirar... Por isso, quando o amor dá sinal de vida, peço sempre pra não ferir, pra não ser ferida. Peço pra saber me doar. Sem temer a entrega. Mas ninguém tem culpa de temer. Então, criei muros... Ás vezes intransponíveis em minha total distração. Me perco dentro de mim mesma. Esqueço mares, esqueço males... Perco o meu fim e o meu começo. Não sei ser pesada, e pra ser leve preciso muito de muros. Porque sou inteira de quem amo, enquanto amo. Mas quando tudo acaba, o passado dói na minha carne, nos meus ossos, se eu não tiver aprendido a ser antes de tudo, minha.
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