terça-feira, 12 de outubro de 2010

Fiquei.


Se perguntarem de mim, diga que fiquei. Fiquei perdida naquele abraço de meio minuto atrás. Fiquei de dedo cruzado, depositando toda a minha fé no tempo, pedindo a ele que parasse, só dessa vez, de correr feito louco. Fiquei de coração na mão, sangrando que não dava nem pra acreditar... Me perguntando boba: Pode dor de amor doer assim? Fiquei com aquele frenesi de criança, na fila do sorvete, esperando a minha vez de sentir o gosto da vida me derretendo pelos cantos da boca. Fiquei na distância de seis passos tentando ler cada sílaba que lhe saltava aos olhos, perturbada que aquele olhar não era nem pela metade meu. Fiquei estirada na sarjeta do silêncio, sem ter o que lhe falar, querendo lhe dizer de mim, até a última ponta. Fiquei sem saber se lhe mostrava ou escondia cada cor que avistara no caminho, enquanto as vozes me falavam e eu não podia escutar. Fiquei querendo descobrir se você sabia que eu não podia ouvir. Que eu não podia ver. Que eu não podia sequer olhar pra qualquer coisa que não tivesse o som da sua voz. Fiquei parada no caminho, só o corpo se mechendo, e alma lá atrás, no toque suave de suas mãos. Fiquei pensando se alguém percebera minha inquietude, meu desconcerto, minha vontade de saber o quanto ainda era preciso caminhar. Fiquei com sentimento torto, de quem tem raiva das circunstâncias. De quem quer pedir uma pausa sem retorno dessa coisa chamada orgulho. De quem quer se entregar sem possibilidade de devolução. Fiquei mesmo alí, de pé na sua frente, querendo saber das tuas dores, das tuas fraquezas e te querendo com tudo o que você trouxesse. Fiquei mais uma vez paralisada, com vontade de falar tudo o que, de uma forma ou de outra, parece só fazer sentido no papel.

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